sábado, 8 de dezembro de 2012

Campeonato do Nordeste: romper para crescer

A Copa do Nordeste foi uma das poucas boas novidades que aconteceram no modo de gerir uma competição de futebol profissional no Brasil. Os primeiros torneios remontam aos anos 70, voltando com maior força nos anos 90. No entanto, apenas no início desse século tivemos um modelo campeão de audiência em TV, e público nos estádios, além de aumento considerável de receita para os clubes da região, outrora, miserável.

O grande problema é que não houve rompimento por parte dos clubes. Os dirigentes não sentiam a força do conjunto, não tinham estrutura e nem vontade de agir. Ficaram sofrendo ameaças dos presidentes de federações que, bem sabemos, são os pilares de dos mandatos da Confederação Brasileira de Futebol - CBF.

Os clubes é que deveriam se profissionalizar, criar critérios rígidos e unificados para gestão. O correto seria uma liga com clubes com força de mercado, cito o Santa Cruz, Sport, Náutico, Bahia, Vitória, Ceará, Fortaleza, e alguns convidados e em cidades com condições de comprar a competição.

Outro fator que aflige a todos e que foi a desculpa para o fim da competição rentável foi a falta de um calendário racionalmente sadio. Isso matou rapidamente as possibilidades de continuidade de um produto importante para os clubes da região. Como a CBF também detinha a organização da Copa Nordeste, esta foi extinta.

Com ela, a esperança dos clubes locais em se fazer sentir como força pulsante da resistência aos clubes do Eixo (São Paulo e Rio de Janeiro), sabidamente controladores dos rumos do futebol nacional desde os seus primórdios.

Agora, novamente, tentam resgatar a competição. Novamente com o apoio do Canal Esporte Interativo, que faz um belo trabalho mas não tem uma força comercial atrativa. 

Porém, duvido muito emplacar novamente e enumero  alguns motivos:

1- Como não existe um calendário, clubes ficarão de fora dos estaduais. Em alguns estados, essa competição ainda gera razoáveis recursos.

2- Os próprios clubes se auto sabotam. Explico: não levam realmente à sério a competição, pois não leva a um torneio continental, por exemplo. Então, o Santa Cruz, clube com médias acima de 30 mil pessoas no seu estádio, não coloca 10 mil nessa competição, pois o discurso não motiva a torcida. Também aqui a falta de planejamento estratégico visando longo período.

3- O clube não organiza a competição, ficando a cargo das federações e CBF e, sabe-se, não é algo que interessa.

4- Os clubes não são profissionais. Dirigentes despreparados, muitos são torcedores, que não são capazes de planejar o dia de amanhã. Com exceção de poucos clubes, feito Sport e Náutico, por exemplo, sequer tem uma equipe de marketing para pensar a marca.

5- Por ser a competição organizada pela CBF, ela joga para seus eleitores, as federações. Por isso o critério de merecimento para participar da competição em detrimento do público em estádio e audiência em TV. Assim, teremos o Náutico de fora e o ASA dentro. Um coloca 18 mil no estádio, o outro 3 mil. Repito, o correto seriam clubes de grande potencial, com grandes torcidas, em cidades de grande porte e em estádios com capacidade superior a 25 mil pessoas.

Enquanto não houver uma ruptura, a competição, mesmo sendo transmitida nacionalmente, não deve obter sucesso geral, ou seja, em audiência, lotação, repercussão e volume de negócios. O que é lastimável. Mais ainda pois é uma competição fantástica e com grande potencial.

Aqui no futebol nacional, continuamos buscando favorecer alguns clubes em detrimento dos outros e a seguir o modelo europeu de organização de competições. Deveríamos, ao contrário, seguir o modelo estadunidense, com ligas regionais que vão galgando postos até a final nacional, fortalecendo a rivalidade regional, baixando custos e aumentando lucros. 

Apesar de ninguém falar abertamente, o certo é que clubes do Eixo querem jogar em sua proximidade. Por isso, ligas de voleibol e futsal não incluem clubes do Norte-Nordeste. E no futebol a exclusão se dá pesadamente pelo fator financeiro e suas divisões de cotas.

A culpa é só da CBF e das federações? Não. Os clubes, torcidas e imprensa, também são responsáveis, na medida em que se lamentam quando um clube cai mas quando este tenta se planejar fazem pressão para algo imediato. 

Clubes devem olhar primeiro para seus quintais e organizarem-se internamente. Depois, unirem-se para criar critérios que devem ser seguidos ao pé da letra por todos e, por fim, brigarem para organizar sua própria liga. Quero ver se o Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sul decidirem criar suas próprias ligas, o que aconteceria com o Eixo? Não subestimem o Nordeste e sua fanática torcida.

Enfim, para o Nordestão virar um bom produto, toda estrutura precisa ser modificada e muito.





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